A Flor do Cuco

A Flor do Cuco

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Hoje fomos a Trás-os-Montes e voltei a esquecer-me do frasquinho da algibeira! Quando subíamos a Serra Da Padrela vi estas flores à beira da estrada e não resisti em ir tirar-lhes uma foto, mesmo "desacompanhada".

Desde pequenos que a minha mãe nos disse que esta era a “Flor do Cuco”. Desconheço o verdadeiro nome dela, mas sei que a minha mãe a chamava assim porque elas floresciam na mesma altura em que os Cucos apareciam e desapareciam aquando da sua migração.
– Olha, já há aqui Flores do Cuco, não tardamos a ouvi-los cantar!

Nunca vi um Cuco, só os ouvia ao longe. Mas, pelo que a minha mãe nos falou acerca desta ave, podia jurar que era feia, enfadonha e traiçoeira! A minha mãe explicou-nos como eles eram parasitas e depositavam os ovos, à socapa, nos ninhos de aves bem mais pequenas. Depois, mal nasciam, eram de mau-fel: num instante empurravam os “irmãozitos” para fora do ninho, ficavam sozinhos, lambões, a dar muito que fazer para ficarem bem nutridos.

Já das flores, sempre as adorei. Chegava a fazer pequenos bouquets que enfiava em copos.

Depois de tirar a foto lembrei-me das Estórias do nosso tio Antônio (assim dito à transmontanês, não pensem que é zuca!), marido da minha querida e saudosa tia Tina.
Lembro-me dos serões junto à lareira e de o ouvir contar as suas piadas. Eram sempre as mesmas, mas conseguíamos ouvi-lo sempre, porque tinha muito jeito para as contar. Uma delas ficou-nos gravada para sempre, foi a “nossa primeira anedota”. Aprendemo-la num instante, depois acabávamos por contá-la, orgulhosamente, com o jeito de, como quem diz “eu já sei contar anedotas”. A nossa primeira anedota foi uma conquista! Como eu gostava de a contar sempre que a situação de proporcionasse...

E ditava assim:

“Era uma vez um Cuco e um Rouxinol.
Certo dia, o Cuco vê o Rouxinol muito bem vestido, ao que lhe pergunta onde ele arranjou uma fatiota tão bonita! E responde-lhe o Rouxinol:
– Fui cantar à janela de um Senhor. Cantei tão bem que ele me deu esta roupa nova!
Passados uns dias, voltam a encontrar-se e o Rouxinol vê o Cuco muito mal tratado, meio depenado, e pergunta-lhe o que lhe aconteceu.
– Oh! Fui cantar à janela do Senhor e, em vez de um fato novo, deu-me uma carga de porrada!
– E como cantaste tu?! – perguntou o Rouxinol.
– Cantei “cu-cu”…
– Cantasses com o bico, não cantasses com o cu!”

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