Boa nova! Boa nova!
Depois de passar umas horas a queimar pestana à volta do Google Translate, o novo website da Groselha-espim (www.groselha-espim.com) já se encontra disponível também na versão inglesa! Valeu-me a preciosa ajuda da minha querida amiga Ana Cabeleira na revisão dos textos, que isto de traduzir automaticamente “rechear (um bolo com doce)”, pode dar para o torto, e sair-nos algo como “rechear (perus)”. Também andava a ficar muito desconfiada sobre se afinal os meus doces eram bons "acompanhamentos (para queijos)" ou "acompanhantes (meninas)"!
Por estes dias ando a conspirar voos muito altos (depois conto!) e precisava, definitivamente, desta nova versão na linguagem dos bifes*! Sim, que por aqui, não pensem que é só caminhadas e fotografias, eu cá também ponho o cérebro a funcionar… (e quase se queimou um circuito, pelo menos).
Ontem, depois de quase dar em louca, consegui finalmente que o Helpdesk de uma empresa do UK ligasse em meu auxílio. Ora, liga-me então um moçoilo monhé…
– “Não há maneira de conversarmos em espanhol, tem de ser mesmo em inglês?” – pergunto. É que eu sou quase galega, e desde pequena que via as tardes televisivas da TVE sem sequer ter parabólica… “Hablo español muy bien!”
– “Não… Pedimos desculpa…”
(…)
– “Veja lá se fala mais devagar que “your accent is not much better than mine”!”
Shame on me! Fui estudante de Erasmus em Aberdeen, na Escócia, mas continuo a insistir que o meu inglês é muito técnico, próprio de um informático. Estive lá um ano lectivo e regressei sem conseguir entender um escocês-escocês. Os de Glasgow então, eu até fugia deles.
Estivemos à conversa ao telefone uns 30 minutos, e não é que nos entendemos?! Até perguntei o nome ao rapaz, chamava-se Giri, era Indiano. Pediu-me para depois responder a um “Inquiry of satisfaction”, ao que lhe respondi “I’ll give you a 10, you’re a nice guy!”.
Depois do telefonema fiquei-me a rir a lembrar-me de uns quantos episódios de outros tempos na Escócia e aqui em Portugal, alguns com estudantes em Intercâmbio. Na Escócia, um dia decidi fazer rabanadas com cacetinhos (aos quais eles chamam “french bread”), fui então ao supermercado sem saber qual a tradução de “canela”. Pedi ajuda à moça na secção das especiarias e disse-lhe que era uma especiaria indiana que às vezes vinha em “stick”, noutras em “powder”, e ela mostra-me um frasco de “Cinnamon”. Achei-a clara demais e que o nome não tinha mesmo NADA a ver, mas lá trouxe aquilo à desconfiança para casa…
Descobri também que só para nós “Salsa”, além de uma erva aromática também é nome de uma dança. Pois, por muito que eu descrevesse a dança latina, nunca chegaria ao termo “Parsley”... Como foi difícil fazer os meus pastéis de bacalhau! Depois, na altura do Natal, por lá não se falava de mais nada senão do “stuffed turkey”, e eu só me interrogava sobre qual seria a iguaria turca que os ingleses importaram e recheavam… Olha, “turkey” era o peru! É que a gastronomia inglesa, de inglesa nada tem, o meu pensamento até tinha alguma lógica!
Já em Portugal, tinha eu os meus 18 aninhos e, no dia da final do Mundial de Futebol em 94, com um Brasil-Itália, lá estava eu, a fazer de velinha ao namorico da minha colega de quarto, a ver o jogo na TV do salão da residência Universitária. Meto então conversa com dois fulanos da Tunísia… Eles falavam mais francês, eu falava “francês-inglês-mímica” e lá nos entendemos. Eis então que decido impressionar os rapazes com os meus conhecimentos na linguagem árabe…
Toda a gente viu a novela “Sassaricando”, e havia lá uma personagem assim com uma beiça muito pintada de vermelho que andava sempre atrás do noivo a dizer “Arrabibi atchimi valsi!” que, pela tradução deles, parecia querer dizer “Meu querido, dá-me um beijo!”. No secundário também alguém me disse que “Hara” era um grande palavrão em árabe, que era mandar alguém para um tal sítio.
Nada de ver o jogo, foi só treta com os dois! Quando eu disse a primeira frase em árabe, os dois ficaram deliciados e sorridentes, já quando disse a segunda fizeram uma expressão muito pouco abonatória a meu favor.
A dada altura, um dos meus interlocutores afasta-se um pouco… E pergunta timidamente o outro:
– “Are you married?!”
– “No…” – e mostro um anelzito de ouro fatela que trazia.
– “Do you want to marry with me?!”
– “I just have 18 years old…”- *glup*
(Silêncio)
– “Do you want to come with me to France? Just tourism?!”
– My father don’t… (me deixa ir!) – mas antes que eu terminasse:
– Your father don't like tunisians?!
E (ufa!) o jogo terminou! O Brasil ganhou, a minha colega de quarto veio ter comigo e viemos embora. Diz ela:
– “A conversa parecia estar muito animada…”
– “Anda e raspa-te!”
Por aqueles tempos, sempre que via o tunisino ao longe escondia-me. Foi a primeira vez (e única) que alguém me pediu em casamento (“Praise the Lord!”) e ontem, se a conversa com o Giri demorasse mais uns minutos, acho que eu me estava quase a por a jeito!
*Fui ver porque chamavam bifes aos ingleses e afinal não é por eles comerem carne bovina! É por culpa da sua falta de melanina que lhes dá aquela tonalidade de pele fantasmagórica quando invadem ao Algarve no Verão, apanham escaldões e ficam vermelhuscos como os bifes ainda crus. (analfabruta!)