Crónica de uma mãe que inscreveu o filho no Andebol

Crónica de uma mãe que inscreveu o filho no Andebol

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O meu filho é um cavalheiro, eu não. O meu filho é calmo e ponderado, eu não. Basicamente, ele é atinado e eu não. Por isso, meti-o no Andebol, para corrigir os seus defeitos.

Hoje foi dia do primeiro torneio. Fomos de Braga a Afife. “Aguenta Arménia, não te queixes que a ideia foi tua!”. Gosto tanto de dormir até mais tarde ao fim-de-semana… Às 8:20 já estávamos a picar o ponto junto ao Pavilhão do ABC, para ajuntar os camaradas.

O torneio começou com o haka “É A, é B, é ABC” e, na assistência, ouviu-se um urro “UhhhhOhhhUUUUU” (☝️), de abertura das hostes. Quando terminou, uma das mães veio ter comigo, parabenizar-me pelo grande alento que eu dei da bancada: “(…) puxou imenso pela equipa, nem deu para perceber bem qual deles era o seu filho!”.

Apesar do sol, a manhã estava fria. Primeiro livrei-me do cachecol, depois do casaco. Saltei, esperneei, gritei, suei TANTO, mas sempre com o raio do traseiro g-e-l-a-d-i-n-h-o! Rais’parta, até “A Pedreira” tem bancos de plástico, da próxima levo uma manta para me sentar.

O Jorge é meu colega na escola e eu falei-lhe da minha intenção de o inscrever no Andebol. “Traz o miúdo ao treino desta sexta, a ver se ele gosta”. E foi assim que começou. Não tivesse sempre tanto que fazer, fui arranjar mais este sarilho…

Nessa sexta-feira o piqueno lá andou, de um lado para o outro, a “apanhar bolas”. Rematou umas 2-3 vezes à baliza, acertou no poste e eu pinchei de alegria.
– “Gostaste de me ver jogar?!“
– “Adorei, tens um remate forte, até a baliza estremeceu!”

Para que o bicho pegasse, achei por bem levar o miúdo a ver o ABC logo no dia seguinte. Era um “ABC – Sporting” e o Jorge avisou-me que a equipa de Braga não estava no seu “melhor momento” …

Nesta altura da minha narrativa convém dizer que não gosto de futebol. Fui uma vez ver o Braga e nem por isso me tornei mais fã deste desporto. Além do frio que rapei, vim de lá danada: aquilo tinha lá um LCD que, basicamente, só mostrava “Golo!! Golo!! Golo!!”, não repetia nenhuma jogada importante!
Em casa, sempre dá para ver quem é o autor do golo e ver o feito numa repetição por vários ângulos. À parte disso, há poucos golos e calhavam no instante em que eu não estava atenta ao jogo. Lá de cima não sei quem detém a bola e não se ouve o relatador explicar a coisa. Só gostei dos insultos ao árbitro, “Oh Mangueiras, oh Mangueiras!”. Confesso que vim de lá sem perceber se era um insulto ou um elogio... Não percebi sequer de que equipa era o dito adepto.

Voltemos ao jogo do ABC.
Convidei o Martim e lá vou eu com dois miúdos para o Pavilhão Flávio Sá Leite. Na primeira parte confirmou-se a predestinação do Jorge. Contudo, na segunda parte o pessoal de Braga entrou com o demónio no corpo! Andebol é um jogo de mata-mata pouco próprio para cardíacos… Recomeçámos num taco-a-taco e ali estou eu, aos saltos, com duas crianças sentadas e sossegadas do meu lado. Na equipa do Sporting havia um tal de “Kalashnikov” (ou assim!), era grande, não era grande coisa, e puxava as camisolas dos moços de Braga!
Na bancada atrás de mim estava um cavalheiro que me pareceu entendido nas regras do jogo… Num ápice, dei por mim também a insultar o árbitro (vulgo, “dizer coisas más”).

– “Meninos, vocês estão a gostar do jogo?!” – lá perguntava eu meia-volta. Ambos respondiam calmamente (?!?) que sim. Numa das vezes diz o meu filho para o colega:
– “Não ligues, a minha mãe, às vezes, é um bocado maluca”.

O ABC perdeu por poucos. Todos viemos agradados com o jogo, mas eu ainda levei umas horas a recuperar os batimentos cardíacos normais.

Na segunda-feira encontro-me com o Jorge na Sala de Professores:
– “Vi-te na televisão no sábado! Tu animaste aquela bancada toda!”
Definitivamente, a próxima vez que for ver um jogo ao Sá Leite, talvez seja melhor ir disfarçada. Ser uma estrela de TV, das Lives e do Youtube não se coaduna com estas figuras tristes.

Esta aventura começou no início do ano lectivo. São 3 treinos por semana e o meu piqueno assistente lá insiste que eu o veja jogar. No início, eu ia de bom-grado, agora custa-me deixar a lareira acesa em casa, mas vou…

Eu que, até à data, dizia “Fixe, fixe é ser professor de Ed. Física!”, passei a transpor estes meus colegas para o patamar de SANTOS. Eu dou aulas de Informática, tenho ali a miudagem apinhadinha (béu-béu para as recomendações de distanciamento social da DGS!), nunca ouvem o que eu digo ou vêem e fazem o que demonstro. Já o pessoal de Educação Física tem uma data de pirralhos aos saltos, a esgueirarem-se para os cantos do pavilhão, outros a fazer o pino, uns a dar uns toques com a bola, outros à estalada, TUDO, enquanto dão ordens e indicações. WTF! No lugar deles, acho que corria atrás da canalha e distribuía umas galhetas a torto e a direito.

– “Jorge, o meu Miguel não corre atrás da bola. Fica, parece um anjinho, à espera que lha passem…”
– “Tem calma, está a começar, os miúdos evoluem. O teu filho tem uma coisa boa: é muito atento, ouve e faz o que dizemos”.

Pffffs, who cares?! Eu, que comprei uns fatos de calção e camisola em material antitranspirante, dei por mim a ter outras ideias:
– “Miguel, não queres que eu te compre umas calças para os treinos? Para poderes deslizar pelo chão depois de rematar e assim, tal como os teus colegas?! Não tens frio?!
– “Não, eu gosto de calções”. Insisti duas vezes e percebi que estava tramada: “o meu filho está determinado a ser um bom-menino”.

Ontem, no fim do no treino, o Jorge juntou a pequenada, como sempre, e acrescentou:
– “Amanhã não quero ninguém a brincar ou a falar durante o jogo. Passam a bola aos colegas e desmarcam-se”.
A equipa é mista, rapazes e raparigas, nunca os vi portarem-se tão bem como no torneio. O meu rapaz fez um brilharete. Mais ainda: enquanto tentava sacar a bola a um adversário, fez uma falta e eu acho festejei mais do que um golo.

– “Mãe, hoje marquei 15 golos (contas dele!). Sabes o que é fixe num jogo de Andebol? É que quando nos batem palmas parece que somos famosos”.

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