Vou recomeçar a história. Hoje não vou “por aí”.
2017 foi um ano de muitas e complicadas mudanças para a Groselha-espim. Mudei totalmente a imagem da marca, no que toca a rotulagem e packaging. Tinha de abandonar a imagem do frasco de “doce da avozinha”, inovar e demarcar-me no mercado. Foi tão difícil, que fiquei sozinha no deserto.
Só para terem noção do investimento necessário, pensem nas quase 60 referências de doces, agridoces e licores que tenho, multipliquem por 2 rótulos (frente e verso) e, depois, por 500 unidades, que são os mínimos aceitáveis para impressão/execução de qualquer trabalho gráfico. Também mudei de vasilhame, para um frasco mais estilizado, com o cunho italiano, que só se compra à palete. Isto tanto para doces, como para os vinagres. Enfim, poderia ainda enumerar uma infinidade de custos associados a esta mudança.
As vozes do empreendedorismo dizem sempre “arrisca, segue o teu coração, a tua intuição, atira-te (…) e bla bla bla”. Vozes, vozes do empreendedorismo, muitos não passam mesmo disso. Não os ouçam, que não é bem assim. Atira-te se estiveres disposto a sofrer.
Eu não tinha o capital necessário para esse investimento. Nem eu, Arménia, nem a Groselha-espim, empresa constituída 1 ano antes. Não tinha nem pouco, nem muito: não tinha. Comecei a produzir doces em 2012, a título individual, a empresa surge em 2016. Hoje, continuo a ser SÓ eu.
Inevitavelmente, como não tenho pais ricos (tenho ricos pais!) nem padrinhos abastados e influentes, recorri ao crédito bancário.
“Bora lá” pensar seriamente no Microcrédito e nas “suas extraordinárias vantagens para as microempresas”… ou NÃO! A minha empresa tinha apenas um ano, a (malfadada) IES não apresentara um saldo positivo e, por esse motivo, não era elegível para uma candidatura. Restavam-me os Créditos ao Consumo, com as elevadas taxas que estamos habituados…E eu fui, atirei-me! (Um dia farei uma publicação dedicada apenas aos bancos, a esses nossos “grandes parceiros de negócio”).
Quando estamos expostos ao risco tornamo-nos muito inseguros. Muitas vezes, perdemos também confiança em nós mesmos. Quando isso acontece, tudo pode começar a correr mal. “Perdigão perdeu a pena, não há mal que lhe não venha”… E tudo começou a correr mal!
Os fornecedores falharam todos os prazos de entrega, com muitos e demorados testes de impressão para, no final, me entregarem um trabalho mau, muito MAU. Mudei de fornecedores, mudei de orçamentos e perdi, pelo menos 6 meses, sem vender um único produto às lojas. Depois, juntem-lhe, SÓ, a Lei de Murphy (basta, imaginem se lhe juntarem ainda alguma inveja...).
Sobrevivi.
Em Outubro de 2017, voltei às vendas, com os artigos com uma nova imagem, mais moderna e apelativa. O período da retoma foi, infinitamente, gratificante. Agora, que ando a ler Mark Manson, podia-vos transcrever tantas citações suas onde me revejo por completo. Leiam-no.
Nessa altura, “todos” os artigos mudaram de imagem, menos um: as marmeladas. Não gostava do packaging das minhas marmeladas, mas também não tive nenhuma ideia para o melhorar. Protelei a mudança, na esperança de me cair do céu alguma ideia brilhante. E caiu: um dia entrei no Lidl e vejo à venda um vaso, com um saquinho de terra e 3 bolbos! Qualquer semelhança entre as fotos que vos mostro, acreditem, não é pura coincidência.
Com um crédito que me apertava até o pescoço, no verão de 2018, empenhei o meu subsídio de férias (da docência) para fazer caixas para as minhas 3 variedades de marmelada. Poderia ter ido eu relaxar, de férias numa praia, tirar umas selfies ao dedo grande do pé, a unha envernizada, sobre a areia, com um lindo mar azul ao fundo, e “postar” no Facebook (ok! no meu caso, até não precisava de tanto zoom). Não fui, não me arrependo.
Que me dizem do meu Jacinto?! É só um, mas basta-se. Agora somos dois!
PS - O vaso de louça ofereci-o a uma colega de EVT que trabalhava (muito bem) o barro com os alunos da turma CEF, quando estive na Escola Gonçalo Nunes, em Barcelos.